O governo está enganado com os discursos que faz e os assuntos que escolhe para trazer a público. A oposição não só está enganada com os discursos que profere, mas também com os seus objectivos. O povo enganado anda, porque diante de si está uma espécie de jogo de pingue-pongue. Bolas e boladas são atiradas de uns para os outros. O povo assiste impávido e sereno. Dizemos que os discursos andam enganados porque se desviaram as atenções dos portugueses, que em vez de debaterem a Ota deveriam estar a debater a Horta. Parece que não temos 21 por cento de pobres em Portugal. Parece até 5 que toda a gente tem acesso à educação por igual. Parece mesmo que a Ota será a preocupação dos 500 mil desempregados de agora. É verdade que as vias de comunicação são fundamentais para o desenvolvimento das economias. É verdade também que o investimento faz crescer as mesmas economias. Mas quando existem problemas estruturais num país como é o caso da pobreza, da educação e do desemprego, parece que está na Ota o Messias que nos há-de libertar. Com a Ota e o TGV haverá claramente maior qualidade de vida para os portugueses. Por um lado, os aviões e os comboios chegarão carregados de brasileiros e imigrantes de leste que procuram no nosso país melhores condições de vida. Por outro lado, sairão carregados de portugueses que procuram melhores condições de vida nos países dos outros.
Há, a propósito, uma rara excepção. O presidente da República condecorou várias personalidades para marcar o Dia de Portugal. Entre vários outros estiveram duas personalidades da Igreja que ao longo dos tempos trabalharam e lutaram pêlos mais pobres: D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, e Eugénio Fonseca, que lidera o trabalho da Caritas em Portugal. Políticos haverá muitos neste país, mas servos dos pobres haverá muito poucos. Esta distinção feita a vários portugueses e particularmente a estes dois cristãos dedicados aos mais pobres poderá contribuir para passar do discurso da Ota para o discurso da horta. Mesmo que a economia cresça, não podemos descansar, porque muitos portugueses precisam de ajuda. Há-de haver, no entanto, uma nova criatividade a fim de encontrar formas de ajuda aos que mais precisam. A Igreja, na simplicidade e no segredo de todos os dias, continua a sua acção de auxílio aos mais pobres.
Pe. Edgar Correia Clara
In a Voz da Verdade de 17 ed Junho de 2007
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