Wednesday, May 31, 2006

O Título sem "Palha" nem Filosofia!


Quando criei um blog, não tinha como objectivo mostrar que penso na vida e na existência. Cada um terá a sua interpretação do que acontece na sua vida, quer isso possua um só significado ou não. Se fosse para isso faria o blog sozinho. Mas não.
Quis então criar um blog para manifestar opiniões, ou informar quem quer que seja que leia este blog, sobre todo o tipo de notícias que me apeteça comentar.
Tenho lido dúvidas, opiniões e comentários sobre o título deste blog, e por isso, como elemento que o baptizou, vou por um ponto final nesta questão. Chega de polémica.

Quem me conhece sabe que sou uma pessoa simples. Não gosto de teorias.

E que proponho é simples: Que tal olhar para o título de uma forma simples, sem teorias demasiado profundas ou filosofias?

Não digo que nenhum leitor tenha razão naquilo que diz, mas peço que se limitem àquilo que as coisas são. Se eu quisesse complicar teria feito um blog de ciências ou de matemática. Mas eu apenas criei um blog, onde alguns amigos escrevem textos.

“(…)Uma vez, a uma mesa do restaurante Tavares, reunimo-nos alguns amigos: o conde de Ficalho, o Ramalho Ortigão, o Oliveira Martins, o António Cândido, o Carlos Lobo de Ávila e eu. Lembrámo-nos de criar uma sociedade, como muitas que havia já noutros países da Europa. Um lugar onde pudéssemos conversar, debater problemas intelectuais... enquanto se comia. O Ramalho foi quem lançou a ideia e Oliveira Martins quem sugeriu o título, inspirado num comentário de La vie à Paris, de Jules Claretie sobre os grupos jantantes que aqui existiam. Dizia Claretie que esses jantares eram reuniões em que se encontravam os intelectuais «attristés souvent, bien changés, les uns glorieux, les autres battus de la vie». E Oliveira Martins disse: «Battus de la vie! Eis o que nós somos também - Vencidos da Vida. Propusemo-nos dar ao país «Vida Nova» e somos afinal de contas uns Vencidos da Vida».
(…)
Os Vencidos ofereceram o mais alto exemplo moral e social de que se pode orgulhar este país. Onze sujeitos que, desde há seis anos, formaram um grupo, sem nunca terem partido a cara uns aos outros; sem se dividirem em grupos de direita e de esquerda; sem terem nomeado entre si um presidente e um secretário perpétuo; sem arranjarem estatutos aprovados no Governo Civil; sem emitirem acções; sem possuírem hino nem bandeira bordada por um grupo de senhoras 'tão anónimas quanto dedicadas'; sem serem elogiados no Diário de Notícias, estes homens constituem uma tal maravilha social que certamente, para o futuro, na ordem das coisas morais se falará dos onze do Bragança como na ordem das coisas heróicas se fala nos onze de Inglaterra.”

Adaptação de textos de Eça de Queirós, em http://www.vidaslusofonas.pt/eca_de_queiros.htm

Lendo o excerto do texto, será tão simples (para quem nos conhece) identificar certas semelhanças com a nossa vida. Quantas vezes não estamos “nós” na minha casa a discutir sobre variadíssimos assuntos enquanto comemos. Obviamente não pus um nome ao acaso. Mas também as minhas razões nada têm de complicado. Parece-me bastante claro que também procuramos sempre a conclusão certa, a solução mais correcta, aquela que possa ser válida e que seja verdadeira, porque se não, porque discutiríamos? E claro que quando é verdade procuramos viver com ela e espalha-la por todos. Para que quereria eu a verdade? Para dizer que me pertence? Não!
E por fim somos um grupo de pessoas que nunca partiram “ cara uns aos outros;”nunca se dividiram “em grupos de direita e de esquerda; sem terem nomeado entre si um presidente e um secretário perpétuo; sem arranjarem estatutos aprovados no Governo Civil; sem emitirem acções; sem possuírem hino nem bandeira bordada por um grupo de senhoras 'tão anónimas quanto dedicadas'; sem serem elogiados no Diário de Notícias(…)”, etc.
Por tudo isto, e também por ser um admirador dos escritores da Geração de 70, eu dei este título a este blog, acabando (penso eu) assim com todas as duvidas.

Sunday, May 28, 2006

Ainda a propósito do título

Quando a Inês diz que «o artista não se prende a burocracias, nem tão pouco a avaliações externas, porque só ele tem consciência do verdadeiro valor da sua obra», eu tenho de dizer que não concordo com ela.
Não que eu considere que o artista tenha de se prender a burocracias ou que deva estar totalmente dependente de avaliações externas, porque, de facto, há sempre elementos pessoais em qualquer obra que podem passar imperceptíveis a sensibilidades menos apuradas ou a inteligências mais obtusas.
É o caso d' Os Maias quando se pretende dizer que a grande questão do livro é o confronto de dois métodos educativos diametralmente opostos, quando a grande questão do livro é, em última instância, a questão da liberdade humana.
Mas, em última análise, o artista depende do exterior, até porque a sua obra pretende (ou deve pretender, caso seja arte) retratar o real exterior. A realidade, tal como se apresenta, com tudo o que de claro e misterioso ela contém, deve ser o objecto do artista.
O horror da arte moderna nasce precisamente da eliminação do significado e da ordem. O repúdio da lógica leva o artista ao sonho, isto é, acaba por conduzi-lo a representar mais os frutos da sua imaginação do que a realidade.
Com a ausência de símbolos e significados a obra de arte moderna torna-se subjectiva e hermética. Quem poderá compreendê-la senão o próprio autor? E por que desejará que a sua obra seja compreendida? Não diria ele também «Eu odeio a objectividade gordurosa e a harmonia, essa ciência que encontra tudo em ordem» (Manifesto Dadá, 1918)?
O risco desta posição é a relativização da beleza, do bem e da verdade, é esta «ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e as suas vontades.» (Cardeal Joseph Ratzinger).
Mas nós sabemos donde vimos. Não somos filhos da incerteza e da irracionalidade, nem do desprezo pelo ser e pela beleza concreta, inseparável do bem e da verdade. Não escrevemos, pintamos ou cantamos porque «sim», para nos fecharmos egoisticamente no nosso «eu», dando ares de grande profundidade e de resignação perante a incompreensão global.
Nós escrevemos, pintamos, cantamos, para dar testemunho da beleza do encontro com Cristo. E quando nos perguntam: «Mas porquê Cristo?» a resposta é clara: porque Cristo é o Verbo feito homem, é Deus, logo tem que ver com tudo. Deus tem que ver com tudo, nada Lhe pode escapar, porque se algum pormenor não fosse digno de ser relacionado com Ele, Ele não seria Deus.
É desta potência absoluta de Deus que nasce a nossa vitória. Jesus Ressuscitado é o facto supremo da nossa vitória. «Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa Fé» (1 Jo 5, 4).

Friday, May 26, 2006

Os Vencidos da Vida

A propósito do nome...

"Para um homem, o ser vencido ou derrotado na vida depende, não da realidade aparente a que chegou – mas do ideal íntimo a que aspirava".

Como o Lourenço disse, o artista não se prende a burocracias, nem tão pouco a avaliações externas, porque só ele tem consciência do verdadeiro valor da sua obra...

Thursday, May 25, 2006

Como eu gosto de (tentar) ser artista! Parte I

É verdade que talvez para fugir ao que realmente sinto, fujo de escrever neste blog aquilo que me é pedido por mim próprio. Tenho muita coisa para dizer, mas certamente terei tempo para o fazer. Não procuro, como talvez afirmem os outros membros do blog, postar um texto por semana, e muito menos procurar falar de um tema concreto. Vou então falar do que quero e quando me apetecer, pois o artista "escreve" quando está inspirado e não de um modo burocrático, procurando falar do que lhe é pedido por fora, ou exigido por alguém. A sua principal engrenagem é o eu. O artista limita-se a escrever aquilo que é importante e aquilo que de facto o importa. Aquilo que de facto o marca e mexe consigo. Não afirma isto que o artista vive num mundo à parte. Não, nada disso. O artista vive num mundo igual a todos os outros, mas escuta-o, e não se preocupa com horas, dias ou instantes, para denunciar ou criticar o que nele acontece. E fala quando se preocupa, quando sente. Por isso não interessa a data nem a hora. Interessa sim que ele ouça e sinta. Por isso é possível escrever 100 post num dia, e nenhum num mês. Tudo depende do que se ouve, e de como se sente.
É este o meu modo de escrever num blog.
E é assim que eu pretendo iniciar a minha participação no blog. Demonstrando os pontos por onde me guiarei: não me concentrarei num só tema, nem num só estado de espirito, porque é impossivél ver sempre luz.
E o resto é couves....

Wednesday, May 24, 2006

«Bem definitivo»

É a primeira vez que escrevo aqui, depois de me convidarem para pertencer ao blog.
E começo a minha actividade justamente com uma das passagens da poesia portuguesa que, na minha opinião, melhor testemunha o desejo de infinito que cada homem transporta.

Se tanto me dói que as coisas passem

Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem

Sophia de Mello Breyner Andresen
Laila