Friday, September 26, 2008

E já que falámos de Salazar... ou Outra vez Salazar



Eis um dos primeiros testemunhos prestados sobre a pessoa e a obra de Salazar, nas semanas que se seguiram à sua morte, publicado no Diário de Moçambique, da cidade da Beira, em 2 de Agosto. O autor foi o prof. Adriano Moreira.

«De vela ao cadáver de Salazar, fui-me lembrando de muitos acontecimentos relacionados com a vida pública da nossa terra, em que a sua presença foi dominante. E também de alguns relacionados apenas com o seu modo de ser, que marcou o estilo do governo e da administração, e o estilo de uma geração de dirigentes. Dos que o seguiram e dos que o combateram. Todos marcados, na sua intimidade mais funda, pelo homem e pela sua acção.
Recordarei aqui duas imagens persistentes. Numa manhã de domingo, do ano de Angola Mártir, fui visitá-lo ao forte do Estoril. Como cheguei a pé, não tocaram a sineta que habitualmente chamava para abrirem os portões do caminho de acesso dos automóveis. Subi a breve escada que ali existe. Ao fundo do pátio, onde se encontra a capela, as portas desta estavam abertas. De frente para o altar, a sós com Deus, Salazar cuidava da toalha, e das flores e das velas. Pensei que não tinha o direito de surpreender esta intimidade. Regressei vagaroso pelo mesmo caminho. Pedi para tocarem a sineta. Quando voltei a subir a breve escada do pátio, já ele estava sentado na sua velha cadeira, mergulhado nos negócios do Estado. Era a imagem de um homem de fé segura, sabendo que haveria de prestar contas. A brevidade da vida iluminada pelos valores eternos. O poder ao serviço de uma ética que o antecede e transcende.
Acrescento outra imagem desse tempo. Recordo os discursos, as notas, as entrevistas, as declarações, em que sucessivamente definia a doutrina nacional de sempre para a crise da época. Tudo escrito pela sua mão. Mas depois, não obstante a urgência e a autoridade pessoal, tinha a humildade de chamar os colaboradores e, em conjunto, discutir, e emendar. A grandeza natural de quem pode aceitar dos outros, sendo sempre o primeiro.
E assim foi exercendo o seu magistério. Com fé em Deus e recebendo agradecido os ensinamentos do povo. Porque nunca pretendeu sabedoria superior à de entender e executar o projecto nacional. E nunca quis mais do que amar até ao último detalhe a maneira portuguesa de estar no mundo, preservando e acrescentando a herança.
O Ultramar foi a última das suas preocupações maiores. Como se, ao crescer em anos e diminuir em vida, quisesse guardar todas as energias para sublinhar a essência das coisas. Todos os cuidados para a trave mestra. Doendo-se por cada jovem sacrificado. Rezando, e esperando que o sacrifício fosse atendido e recompensado. De joelhos perante Deus e de pé diante dos homens. Humilde com o seu povo, orgulhoso perante o mundo.
Assim viveu, acertando ou com erros, mas sempre autêntico. Com princípios. O único remédio conhecido contra a corrupção do poder. E muito principalmente quando se trata de um poder carismático, como era o seu caso. Um desses homens raros que a fadiga da propaganda não consegue multiplicar. Porque ou as vozes vêm do alto ou não existem. Não há processo de substituir o carisma. Por isso, também, essa luz, que tão raramente se acende, é toda absorvida pelo povo, o único herdeiro. Soma-se ao património geral. Inscreve-se no livro de todos. Pertence à História. Transforma-se em raiz.
»

Adriano Moreira

In A Rua, n.º 56, 28.04.1977, pág. 14.

Coisas que Quero Guardar: Futuro Presente

Celebramos a alegria que é a de podermos ler a Futuro Presente.
As férias são para mim momentos importantes de estudo. E a Futuro Presente é uma excelente companhia que une atributos necessários e que facilitam esta minha tarefa: qualidade e quantidade.
Por essa razão, aqui deixo algumas leituras que nos parecem recheadas de interesse e que quero que permaneçam no meu baú, para mais tarde recordar.



“Os Anos de Salazar” de Nuno Rogeiro
SALAZAR GRANDE E PEQUENO 1
SALAZAR EM GRANDE E PEQUENO 2:O QUE É SER GRANDE
SALAZAR EM GRANDE E PEQUENO 3:AS ÉPOCAS DE SALAZAR(I)
SALAZAR EM GRANDE E PEQUENO 4:AS ÉPOCAS DE SALAZAR(II)
SALAZAR EM GRANDE E PEQUENO 5:O HETERÓNIMO DE PESSOA

“Ser Conservador: A Versão Anglo-Saxónica” de Miguel Freitas da Costa
SER CONSERVADOR: A VERSÃO ANGLO-SAXÓNICA - 1
SER CONSERVADOR: A VERSÃO ANGLO-SAXÓNICA - 2
SER CONSERVADOR: A VERSÃO ANGLO-SAXÓNICA - 3
SER CONSERVADOR: A VERSÃO ANGLO-SAXÓNICA - 4
SER CONSERVADOR: A VERSÃO ANGLO-SAXÓNICA - 5
SER CONSERVADOR: A VERSÃO ANGLO-SAXÓNICA - 6
SER CONSERVADOR: A VERSÃO ANGLO-SAXÓNICA - 7

A Transição Jaime Nogueira Pinto
A TRANSIÇÃO(APONTAMENTOS QUASE PESSOAIS)I
A TRANSIÇÃO (II): OS CANDIDATOS
MAIS "MEMÓRIAS DA TRANSIÇÃO" - III: O CLIMA CULTURAL

"O Que é a Verdade?"

Iniciei hoje a leitura de um novo livro, de edição recente. O autor é um dos maiores juristas portugueses da actualidade: o Professor Doutor Paulo Otero, Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. E o tema é Salazar.

A Obra intitula-se Os Últimos Meses de Salazar - Agosto de 1968 a Julho de 1970 e é editada pela Almedina.
Tem como objectivo desbravar um período pouco discutido da vida de Salazar: os dois últimos anos de vida, em que sofre um acidente, fica incapacitado de governar, e vive os seus últimos dias em São Bento sobre uma farsa que foi montada à sua volta.



O livro, diz-nos o seu autor, não é uma obra como aquelas a que nos acostumamos a ler sobre Salazar. Aqui encontraremos uma homem, fraco, dependente e doente e não o político forte e autoritário. Talvez, arrisco a dizê-lo, um retrato humano, no sentido em que vemos realmente um homem, que do tudo passou ao nada. É o momento, é a situação, é a sequência de acontecimentos que levaram Fernando Dacosta a exclamar um dia, como nos conta na sua obra As Máscaras de Salazar, que até ao momento em que o Presidente do Conselho caiu da cadeira, ele considerava-o verdadeiramente um ser imortal e sem fragilidades.
Reforço esta minha ideia com uma outra diferente que nos é dada pelo próprio autor, que escreve logo no início: Trata-se de "uma reflexão sobre as relações entre a amizade e o poder: quem já teve o poder e deixou de o possuir, sem esperança de o recuperar, só então sabe quem são os seus amigos."

Outro ponto a ter em conta, e que o autor não prescinde de afirmar em Nota Prévia, é o facto de que para se compreender o 25 de Abril, ou antes, para o justificar-mos - não para o legitimar-mos, mas para o entendermos e para, nas próprias palavras do autor, compreendermos "as raízes do 25 de Abril" - é importante estudar-se este período de tempo, em que vemos um Américo Thomas publicamente oculto mas politicamente demasiado interventivo, e um Marcello Caetano que se foi "queimando" num jogo político que afirmava não ser seu forte, em grande parte por culpa de Américo Thomaz.
O autor diz-nos que Marcello Caetano "instrumentalizou Salazar" apesar de muito o respeitar, mas ao longo da leitura (e eu ainda não terminei) parece que poderemos dizer que ele próprio foi instrumentalizado por Américo Thomaz.

Por outro lado um livro revela-se cheio de interesse pelo debate que nele reside. O livro é da autoria de um professor, e como tal, ela é construída de forma didáctica. Perante cada questão colocada, o autor revela-nos as várias posições dos diversos autores e os argumentos que usam para sustentarem as suas teses, sendo que só no final de cada problema colocado encontraremos a opinião do autor; e também por nos tentar transmitir um pouco do que ocorreria na cabeça de Salazar vendo o que sucedia diante de si: a sua incapacidade e a sua sucessão, o seu "sequestro" em São Bento e o "novo mundo" que lá foi montado, como nos conta Paulo Otero.

Enfim, parece um leitura deveras interessante.

Tuesday, September 23, 2008

Knut Hamsun



Já era de esperar, pois assim sempre nos habituou, o amigo Mário, não se esqueceu de dar destaque à notícia publicada no último expresso.