Monday, June 18, 2007

O Portugal que se perdeu....

Não sei ao certo os valores que se perdem neste país por conta das mudanças políticas e sociais que sofremos - há quem lhe chame mutações culturais, mas a meu ver estas resultam da politica e dos que lá se "colocaram", se é que me entendem.
O Post devia ter sido publicado ou a 10 ou a 14 de Junho. Gostaria de o ter colocado dia 10 de Junho, porque é o dia de Camões e da língua portuguesa, e porque se trata da trata de um referência de amor à pátria. Mas os atribulados dias que me têm ocupado, levaram-me a deixa-lo para hoje.

Falo-vos hoje de Joaquim Belford Corrêa da Silva, mais conhecido Joaquim Paço D'Arcos, o seu nome artístico.
É normal desconhece-lo. Ou melhor, normal não é, mas tendo em conta as condições, considera-se normal. Num país como este, promove-se a leitura de uns Manueis Alegres e uns Saramagos (sabe-se lá porquê...) e ignoram-se os homens que por vezes projectaram o nome do país e o honraram através do seu talento.
Joaquim Paço D'Arcos foi, como se pode depreender pelas linhas anteriores, um escritor, poeta, ficcionista, ensaísta e dramaturgo português, nascido em Lisboa a 14 de Junho de 1908, e falecido a 10 de Junho de 1979.
A sua obra principal constitui a «Crónica da Vida Lisboeta», que se desenvolve ao longo de seis volumes, um ciclo narrativo da vida em Lisboa nos anos 40 e 50, onde escreve e denuncia situações sociais, económicas e políticas da época, centrando-se sobretudo nas classes altas, o que faz reverter para a Comédia Humana, de Balzac, chegou a ser considerado por muitos críticos, quer portugueses, quer brasileiros, fundamental no âmbito da literatura portuguesa. Depois de «Ana Paula» (1938) e «Ansiedade» (1940), segue-se «O Caminho da Culpa», o terceiro livro da série, sendo este geralmente considerado o seu melhor livro, girando a acção em torno de uma jovem da alta burguesia de Lisboa, Maria Eugénia, que, após cometer adultério com Paulo (médico da família), virá a morrer de cancro no momento em que percebe estar grávida do amante. Além de interrogar com argúcia o drama pessoal da protagonista, este romance fornece-nos também um bom retrato da vida mundana lisboeta de meados do século XX.
No entanto, foi como ficcionista que atingiu maior notoriedade. Deste género são exemplares as suas obras «Memórias de uma Nota de Banco» ou «O Navio dos Mortos».
Após a sua morte foi praticamente esquecido, não se cumprindo as suas palavras no poema «Escrever é vencer a morte»: "escrever é projectar-se além da Vida, É vencer a Morte".
Foi um dos escritores mais lidos em Portugal nos anos 40 e 50 e foi dos escritores portugueses do século XX mais traduzidos no estrangeiro.
Para além de escritor, foi chefe do gabinete de governo do território de Companhia de Moçambique na Beira (Africa Ocidental), comerciante em São Paulo e foi desde 1936, prolongando o cargo durante décadas, director dos serviços de imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Foi ainda administrador, por parte do governo português, na Trans-Zambézia Railway Co. Ltd, com sede em Londres.
A sua obra apresenta ideais conservadoras, o seu espírito cosmopolita e abertura ao mundo. Estas últimas ganham bastante notoriedade nas suas obras, não só como ficcionista como também como poeta, estando os seus poemas cheios de referências a países estrangeiros, como o exemplo do poema «Não quero perder o Navio em Nova Orleans», ou «Esta é a Terra do Texas Jack», revelando-se o escritor como um homem viajado.
Na poesia, o seu livro mais conhecido é de 1952, «Poemas Imperfeitos», e é nele que se encontram os poemas acima citados.
Na sua obra reconhece-se também um amor à nação portuguesa, sendo que, a 10 de Junho de 1975, acabaria por escrever um poema que lhe rendeu algumas más interpretações e mesmo ofensas. Sobre este poema, alguém – que eu desconheço por completo - escrevia na Internet que "Não foi conservadorismo nem fascismo que o levou a escrever um poema assim. Foi uma coisa que muitos não compreendem porque não a sentem: amor a Portugal, em vez de desejos de pagar menos impostos. E um sentimento assim transcendente, é um pouco como a Fé: não se explica nem se discute, ou existe no nosso coração -- ou não". Poema esse que passo a citar, pois, como escreveu de novo o ilustre desconhecido "pode não se concordar, mas tem de dizer-se que ele tinha toda a razão em escrever o que escreveu. Toda" e "Quem disser que ele mente, afinal apenas se envergonha do facto de ele falar verdade".


25 de Abril de 1974
Duzentos capitães! Não os das caravelas
Não os heróis das descobertas e conquistas,
A Cruz de Cristo erguida sobre as velas
Como um altar
Que os nossos marinheiros levavam pelo mar
À terra inteira! (Ó esfera armilar, que fazes hoje tu nessa bandeira?)
Ó marujos do sonho e da aventura,
Ó soldados da nossa antiga glória,
Por vós o Tejo chora,
Por vós põe luto a nossa História!
Duzentos capitães! Não os de outrora…
Duzentos capitães destes de agora (pobres inconscientes)
Levando hílares, ufanos e contentes
A Pátria à sepultura,
Sem sequer se mostrarem compungidos
Como é o dever dos soldados vencidos.
Soldados que sem serem batidos
Abandonaram terras, armas e bandeiras,
Populações inteiras
Pretos, brancos, mestiços (milagre português da nossa raça)
Ao extermínio feroz da populaça.
Ó capitães traidores dum grande ideal
Que tendo herdado um Portugal
Longínquo e ilimitado como o mar
Cuja bandeira, a tremular,
Assinalava o infinito português
Sob a imensidade do céu,
Legais a vossos filhos um Portugal pigmeu,
Um Portugal em miniatura,
Um Portugal de escravos
Enterrado num caixão d’apodrecidos cravos!
Ó tristes capitães ufanos da derrota,
Ó herdeiros anões de Aljubarrota,
Para vossa vergonha e maldição
Vossos filhos mais tarde ocultarão
Os vossos apelidos d’ignomínia…
Ó bastardos duma raça de heróis,
Para vossa punição
Vossos filhos morrerão
Espanhóis!


É com certeza por defender ideias conservadoras (ou mesmo) como estas, e certamente também devido aos cargos públicos que exerceu, que a sua obra acabou "apagada" e ignorada da história portuguesa. Temos sorte em ter um nome como o dela na nossa história, mas mais uma vez, fizemos com ele aquilo que, no nosso país sucede de generalizada a vários homens de valor: esquecem-se e não se lhes são prestadas as devidas homenagens.
É contra esse espírito que aqui relembro a obra deste grande escritor português que, num país como o nosso, sai prejudicado devido ao "regime".

2 comments:

Prof-Forma said...

Viva!

Li o seu comentário no meu blogue, e estou aqui para retribuir a visita. Reparei que disponibilizo um link para o Vivo e de Boa Saúde, e, emespírito de reciprocidade, farei o mesmo. Volte Sempre, e boas postagens!

JV

Camilo said...

Fantástica postagem, meu Amigo.
Que lufada de ar fresco!...
Também sou daqueles que pensam como é possível os Manéis Alegres e panditas como o residente de Lanzarote, atingirem os píncaros da "literaturra"...
Mas... o "encosto", meu Amigo, a conjuntura...
Às vezes penso que estou sózinho nesta "luta".
Mas não... não estou!!!!