Um tema dominante na cultura popular actual é a inversão de papéis. Hoje o herói é o pirata (Piratas das Caraíbas), os bruxos (Harry Potter), ladrões (Oceans's 13), até o ogre (Shrek). Os vilões, entretanto, são o príncipe encantado, a Companhia das Índias, a Igreja (Código da Vinci), o governo americano e as empresas (quase todos os outros filmes). Trata-se literalmente do oposto dos enredos de há 50 anos.
À primeira vista, parece haver uma corrupção de valores, trocando-se o mal com o bem. Ligando isto a dramas reais, do aborto aos escândalos financeiros, não faltam os que duvidam da nossa sanidade moral e desesperam do nosso futuro social.
Se virmos com mais atenção, porém, as coisas são muito mais consistentes. Afinal, hoje como antes, os heróis continuam a comportar-se da mesma forma. Eles só são heróis porque exaltam a honra, amor e amizade, beleza, fidelidade, justiça, sacrifício. E os vilões, mudando roupas e cargos, continuam tão infames e malévolos como sempre. O bem e o mal permanecem.
Que significa então a tal inversão? No fundo, quer dizer o mesmo que os seus críticos. Quando se celebra a bondade do marginal (pirata, ladrão, ogre) e se condena o sistema (rei, empresa, governo), denuncia-se a sociedade como corrupta e hipócrita. Isso é precisamente o que dizem os que, a partir desses filmes, falam de perda de valores e desorientação moral.
Em todos os casos, a vítima, atacada de todos os lados, é ... a sociedade. A vida que temos, o mundo em que vivemos é o alvo de todas as críticas, dos revolucionários como dos moralistas. Esse drama dava um bom filme.
João César das Neves
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment