Monday, July 02, 2007

A tristeza deste mundo



Ontem, passeando pelas livrarias lisboetas, decidi entrar na fnac, loja pela qual tenho uma enorme estima, e na ânsia de encontrar o que desesperadamente procurava, lancei-me ao balcão onde, atrás de computadores cheios de informação, encontro uma jovem senhora, por sinal até bem dotada naquele campo a que chamamos beleza, e perguntei-lhe de forma rápida e bastante expressiva:
- Bom dia! Estou à procura de livros de Charles Maurras. Tem alguma coisa?
- Desculpe? - interrogou a jovem com aquele ar típico de quem não compreendeu aquilo que se desejava.
Pensei ter pronunciado mal. Talvez a minha ansiedade me tivesse causado algum problema linguístico que prejudicasse a percepção do ouvinte. Repeti de forma calma e pausada:
- Bom dia! Estou à procura de livros da autoria de Charles Maurras. Tem alguma coisa?
- Bom dia! Procura Maurat? - Questiona-me a senhora.
Assustei-me. Estaria o meu francês tão mau que ela não percebesse o que eu digo? Teria sido uma mera brisa que, ao passar deturpara as minhas palavras? Seria um problema da minha língua, que se havia baralhado e, apesar da ideia que tinha na cabeça, ela pronunciou outra coisa que não o que eu desejava? Não sei...
- Não. Procuro Maurras. Charles Maurras.
- Pode soletrar? - perguntou-me enquanto puxava para fora a prateleira do teclado do computador.
Inacreditável. Ou sou um autêntico analfabeto, ou isto é realmente inacreditável.
Soletrei então:
- M-A-U-R-R-A-S.
- Hummmmm.... não tenho cá nada. Nem aparece informação nenhuma no computador - disse-me com ar apreensivo e até (não querendo parecer convencido) com um ar desgostoso por não me poder fazer a vontade.
Eu próprio fiquei triste ao observar aquela - que eu considero - falha numa livraria de que eu tanto gosto, e tanta qualidade tem.
No entanto, a surpresa decide, como é habitual, aparecer quando ninguém a espera, e daquela face angelical, doce e até aparentemente culta, saem seis palavras que me deixam boquiaberto:
- Mas afinal o que é isso?
A sua beleza caiu por terra. Numa situação daquelas até a mais bela das mulheres, se tornaria um bruxa daquelas dos contos de crianças, gorda, feia, com uma verruga no nariz, etc (por favor não confundir com a Odete Santos).
Como é possível não saber quem foi Charles Maurras? Ou trabalha ali alguém que não percebe nada de livros, ou a cultura já não é cultura. Calculo que o problema seja que a cultura agora é "cultura" e é um pouco influenciada, pendente, formada, virada para o lado daqueles que se dizem artistas, sendo que esses se preferem sempre sentar do lado esquerdo.
Valeu-me de consolo que aquele rosto, onde antes encontrara tantas qualidades, me afirmasse que conhecia Anrique Paço d'Arcos.

2 comments:

Flávio Santos said...

A FNAC caracteriza-se por expurgar dos seus escaparates a grande maioria dos escritores politicamente incorrectos. Pode-se lá encontrar o mais fraco escritor comunista ou socialista, mas mestres como Maurras, grandes escritores como Drieu, Rebatet, Brasillach nem vê-los. Por vezes lá aparece um Couto Viana ou um Rodrigo Emílio - mas por ignorância do censor.

LdM said...

É uma grande verdade que a fnac tem enormes falhas. É uma pena, porque eu até tenho grande simpatia pela livraria. Também é verdade que como loja, deve querer interessar ao leitor, e sejamos sérios, a maioria da clientela nos dias de hoje ou são de esquerda ou são empurrados para lá. Mas isso não impede que tenham grandes escritores. A inteligência de Maurras eleva-se a um nível superior ao de qualquer esquerda ou direita, independentemente do que ele diga e proclama ou defende. Além disso o facto da maioria ser esquerdista, não impede nem proíbe que se vendam livros de Maurras. Tenho pena que ainda se verifiquem situações destas, mas ainda mais pena tenho de nem sequer saberem quem foi Maurras.
É tudo uma tristeza, e um sinal dos tempos.
E que maus tempos estes…