Thursday, March 01, 2007

O Conto de Francisco



Uma tentativa minha (frustrada convém referir) de fazer um desenho de um homem mal-encarado! Peço desculpa...

Conheci o Francisco há cerca de um ano. Sempre tinha ouvido falar dele como o "mal-encarado", o "desagradável" ou o "intriguista". É verdade que ele sempre teve as feições muito cerradas mas, eu não o podia julgar pois não sabia nada dele verdadeiramente, apenas conhecia boatos. Confesso que as minhas perspectivas não podiam ser as melhores depois do que havia ouvido sobre ele, no entanto pouco me importava ou não se algum dia o conheceria.
Quando o encontrei pela primeira vez, foi na festa do Vasco e foi ai que fui apresentado por este mesmo. Falamos bastante, desde política, a mulheres e até sobre a vida de cada um. No entanto eu mantive-me pouco activo. Queria observar realmente o comportamento deste homem. E não sei se é de mim ou se realmente é um facto, este homem pareceu-me desde o início talhado para um futuro bem mais colorido do que lhe calhou até ao dia de hoje.
Nessa noite soube que Francisco sempre tivera uma maneira diferente (se especial ou não, isso já não sei...) de encarar a vida. Na escola passou períodos difíceis. Castigos, algumas surras dadas pelos próprios colegas etc. Houve um dia que depois de a uma colega sua terem roubado a mochila da sala de aula enquanto esta se encontrava no intervalo, e a professora ter perguntado quem fizera tal coisa, Francisco de imediato apontou para os culpados acusando-os. Francisco sabia que estava certo, pois tinha-os visto a cometerem o crime. A professora que decidiu logo castigar os culpados ao certificar-se que eles o eram verdadeiramente, disse a Francisco que estava muito satisfeita com a sua atitude e que havia tido muita coragem. Francisco agradeceu e seguiu a sua vida. No final do dia e após as aulas, Francisco ao sair da escola é surpreendido pelos seus colegas que decidem pregar-lhe uma lição pelo facto de os ter acusado. Quando chegou à escola no dia seguinte e fez queixa à professora de que os colegas lhe haviam batido, ela apenas lhe disse: "o que? não acredito? mas não pode ser? Mas foi fora da escola? Ora isso é uma chatice. Ai a escola não pode fazer nada!!!"
Mais tarde foi despedido do emprego por ter dito à mulher do chefe que este tinha uma amante. "Ora se era verdade o que havia eu de fazer? Uma mulher não tem que viver com a cabeça enfeitada por causa das tolices que o marido faz sem dizer nada..." disse rindo-se.
Há cerca de um mês, numa das suas idas ao São Carlos ver uma ópera, viveu uma situação caricata. Durante o intervalo, quando se dirigia ao salão nobre para jantar, passou por um camarote onde ouviu uma mulher a falar com alguns estrangeiros. Ela estava a elogiar e a "fazer campanha", digamos assim, um ministro corrupto, afirmando que era "o homem mais justo do país". Francisco ficou indignado e como é seu hábito de não suportar a mentira, entrou no camarote e começou a refutar a mulher. Revoltada, esta pede para que ele saia, mas ele continua a explicar aos estrangeiros a verdade sobre o ministro. "Sabe, ele é um grande aldrabão. Não podemos negar que no passado no livrou de uma situação muito complicada, mas não é razão para que ele roube dinheiro ao Estado". Entretanto, a mulher que cada vez menos suportava a sua revolta e se descontrolava cada vez mais, decidiu chamar a segurança e queixar-se dele. Estes nem o ouviram - Um pouco por culpa da cena que antes havia protagonizado, quando no inicio da opera decidiu defender um dos "arrumadores" do teatro de uma injustiça que estava a sofrer com uma espectadora - e chamaram a policia para o levar. Foi preso por distúrbios provocados em local público. No entanto ainda hoje me fica a dúvida: que culpa terá um homem por dizer e defender a verdade? É este o dever que temos? Deveremos mesmo condenar quem diz a verdade? É esta a sociedade que luta pelo que está certo? É esta a educação que queremos para nós? Isto é que é educar para a verdade?
Não sei... ainda me faz confusão.
Enquanto isto, todos os Franciscos do mundo serão sempre homens de azar com um destino negro.
Se não quiseres ser assim, mente....

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