Saturday, January 20, 2007

A Nossa Hipocrisia

homem - do Lat. homine; s. m., animal mamífero, bípede, bímano, racional e sociável que, pela sua inteligência e pelo dom da palavra, entre outros aspectos, se distingue dos outros seres organizados; pessoa adulta do sexo masculino; varão; fam., marido; sujeito, indivíduo; fig.,a espécie humana, a humanidade.

hipocrisia - do Gr. hypocrisia, forma poética de hypócrísis, desempenho de um papel no teatro, dissimulação; s. f., impostura, fingimento; manifestação de virtudes ou sentimentos que realmente se não tem.


Muitas das coisas que faço quando ligo o computador, é ver alguns blogs que me habituei a visitar. Porque o faço? Porque neles encontrei alguma coisa que me prendeu.

No serão de hoje, num deste blogs que visito, encontrei várias argumentações/discussões sobre um tema de que muito falo e que agora está muito na moda: o aborto.
Fugindo à minha habitual insensibilidade e descontrolo emocional que me faz responder de forma intempestiva, decidi sentar-me e analisar os argumentos com que me confrontam.
No geral todos se resumem a uma palavra: hipocrisia. Afirmam que eu, defendendo a minha opinião não passo de um hipócrita, que não sou um santo, que serei o primeiro a optar por abortar quando me deparar com uma má situação e que não é por o "Não" ganhar o referendo que o aborto vai acabar, pois quem quiser abortar irá faze-lo da mesma forma e que eu já sei isso, e que procuro mascarar o tema, pois trata-se da não legalização do aborto e sim da liberdade das mulheres.
Os outros passam todos por estes: que sou um conservador e que sou contra a liberdade. Que sou um difamador porque os acuso de serem assassinos e que no fundo também sou um mercenário que só procura dinheiro. E acusam-me até de ser causa de atraso no país.

Como me defendo:

Santo??? eu nunca me afirmei santo, e não creio que ninguém, e a minha experiência o diz, que ninguém o afirme sobre mim. Gostava, acreditem, mas tal não acontece. No entanto continuarei aspirar à santidade, apesar de não acreditar que lá chegue.
Começando pelo fim, até aceito que me chamem de conservador, no entanto não fundamentem essa opinião nesta questão. Resumir esta questão a uma questão judicial excluindo a parte ética não fará qualquer sentido. Exemplificando: porque defendemos a lei que condena quem comete algum crime que coloca a vida de outros em causa? Não é só uma questão de lei, é uma questão moral: ninguém tem o direito de tirar a vida de outro e quem o fizer é castigado.
Atenção: este exemplo não tem o objectivo de chamar ninguém de assassino, pelo contrário, trata-se de realçar a humanidade das pessoas.
Neste caso, trata-se de algo semelhante: não é só questão de sim ou não ao dinheiro investido em hospitais e clínicas de aborto, ou ao futuro dos nosso impostos, ou ao mesmo de liberdade. Trata-se de um problema de vida. Quando se aborta não se aborta o vazio. Não se aborta uma coisa. Aborta-se vida. E não se pode ter um direito de escolher sobre vida, pois essa tem sempre direito a viver. Se fosse meramente uma questão de liberdade, ou uma questão de não criminalização, então porque condenamos os assassinos e os serial killers? Porque condenamos ditadores sanguinários?
Outra questão é a problemática de o "não é com a vitória do não que se acabará com o aborto, pois quem quiser irá faze-lo da mesma forma". Mas isto é razão para alguma coisa?
Num programa televisivo (que nenhuma relação tinha com o problema que aqui discuto, mas sim de traição) apareceu uma mulher que afirmou: "quem é que numa situação como a minha não faria a mesma coisa que eu?".
A definição de homem demonstra que todos nós somos racionais e que é isso que nos faz diferentes. Por sermos racionais vivemos em sociedade que se regula através de regras que são traduzidas por direitos. Evidentemente que haverá sempre quem desrespeite a lei, mas é por isso que as iremos abolir? É porque os outros fazem que faremos também? Desde quando o outro é razão para mim? Se vivêssemos numa anarquia, faria sentido discutirmos isto, mas tal não acontece. Portugal é uma democracia que possui constituição e leis. Não votamos no que quer que seja porque dá mais jeito. Há que ter um voto de consciência. Votar no que está certo. E não é porque o vizinho ou porque eu faço o que quer que seja, que está certo? Muitos de nós criticaram a morte de Saddam, mas visto por este prisma, talvez sejamos nós a estar errados. (Atenção: não se pense aqui que sou contra a liberdade. Sou a favor da liberdade sim! mas uma liberdade controlada e que seja regida por leis.)
Este argumento serve também para refutar quem me acusa de ser causa do atraso do país, só porque não aceito que Portugal vote uma lei só porque outros países já a votaram. Há milhões de ideias geniais para copiarmos, não será necessário copiar tudo, muito menos o mau.
Quanto ao ser mercenário porque sou contra que utilizem o dinheiro dos impostos dos portugueses para financiar abortos; porque sou contra que uma mulher passe à frente de doentes, muitas vezes bastante necessitados para fazer um aborto; porque há centenas de pessoas neste país a lutarem para sobreviver e que não têm dinheiro nem para comer, e em vez de as ajudarmos, financiamos clínicas para por fim a vidas; penso que ser mercenário não terá uma conotação tão negativa.
Por fim, questiono-me se serei hipócrita por tudo isto?

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