Não é só uma questão de gramática. Essa já bem pontapeada foi e continua a ser. Hoje podemos perfeitamente passar na rua, no trabalho, ou em qualquer lado, que parece que a escolaridade deixou de importar para quem quer que seja, e perdeu mesmo a sua importância na sociedade. Já não é ela factor de divisão social. Pode ser uma mulher que nunca foi à escola, ou uma que passou lá a vida. Não se consegue já evitar a sujeição dos nossos ouvidos a atentados como "quando opõem-se" ou "dissestes algo?", já para não falar do "né", que não deve ser mais do que a simples contracção de não+é, que eu não sabia possível. Há que se notar que no entanto é este problema linguístico que ainda mantém vivo aquele hábito popular, geralmente verificado a norte do país, em que o povo, se dirige aos tribunais, em dia de julgamento, só para ouvir o chamado "português de lei".
Mas o ponto central deste post, tem a ver mais com o problema etimológico que gramático.
É fácil, parece-me, notar a banalidade com que as palavras são usadas. Elas já não têm um significado, mas vários. Mas o problema reside na natureza destes significados novos, que geralmente residem no sujeito A, B ou C, ou seja, varia de pessoa para pessoa. É um relativismo linguístico. E penso que é preocupante.
Poderá este provir do mesmo relativismo que corroí a sociedade de hoje?
Claro! Sem dúvida nenhuma. É fruto da mesma fonte. Aquele afogar da sociedade no "segue o teu coração", no "ok! para ti é isso, mas para mim é isto", e mesmo o velhinho (e isto claro é um exemplo casuísta) "gostos não se discutem", teimam em fazer do mundo de hoje, um mundo de excepções e sem regras, em vez de um mundo de regras com algumas excepções.
Exemplo disso mesmo, e penso que não haverá melhor no tempo corrente, é o do uso banal de palavras como fascismo, ditador, totalitário, etc. como se cada uma não tivesse um significado próprio, com base em características suas, que as tornam únicas?
Ai sujeito A não deixou a filha falar casar com B."Esse homem é um ditador".
A despede o seu trabalhador B por B não fazer nenhum."A é um Fascista!"
Um governo é autoritário. "Esse governo é Fascista e Totalitário!".
O mesmo se passa por exemplo com a palavra direita.
"Se é de direita, é fascista!"
Dá-se uma conotação imediata. Uma associação imediata a ideias pré-concebidas e que dão azo a generalizações sem sentido e desnecessárias, de que este é exemplo este mesmo desenho:
1 comment:
A ignorância sobre o significado dos termos que utilizam é basta entre os jornalistas, e nunca é demais denunciá-la. Mas não só isso: há entre as gentes dos media e a gramática, a ortografia, a fonética, e a própria lógica discursiva, uma inimizade que parece visceral: jornalistas cujo único ofício na vida é falar e escrever correctamente o Português dão demonstrações verdadeiramente clamorosas de ignorância nessa área!
O mal está em recusarem, por obstinada obtusidade intelectual, tomar contacto com os bons autores da nossa língua, de quem tirariam excelentes lições não apenas sobre o modo de bem escrever mas até, de forma mais comezinha, de bem pensar, de bem estruturar ideias, de utilizar mais sabiamente o vocabulário sem o empobrecer e deteriorar.
Aproveito o dia de hoje, de festa e de patriotismo, para aconselhar este excelente texto (está no meu blogue, mas nõ é meu: por isso é que é excelente) do imortal Pe. António Vieira.
Houvesse entre os nossos jornaleiros um centésimo desta categoria e eu era feliz...
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