Por vontade de Deus, sou português. Nasci em Portugal, e as vicissitudes da vida não me obrigaram nunca, até hoje, a sair deste lugar, na ponta ocidental da Europa, na qual Espanha se encosta e põem debaixo do braço, enquanto o outro lado se banha no Atlântico.
Nasci na década de 80. Não conheci por isso, aquele que era o Portugal do passado. Ou melhor, conheci-o e visitei-o através daqueles que nele viveram. A minha família não era toda monárquica ou salazarista. E os que os eram nunca o foram de forma ideológica porque nunca tinha sequer pensado no que isso era. Porque nunca se dedicaram a reflexões políticas. Eram, como a maioria das pessoas de hoje, alguém que vivia no seu tempo, com as suas preocupações, e que esperava vê-las resolvidas. O que herdei não foi por isso, o fruto de uma educação propagandística ou ideológica. Antes pelo contrário. Foi o testemunho concreto, de pessoas concretas, que viveram num tempos distintos e os comparavam, contando-me o que viveram, quando confrontadas com as minhas questões acerca da história que me ensinavam na escola.
Não acho que o dia de hoje, seja comemorativo. Nunca o achei. Fui educado assim, e o tempo e o estudo permitiram-me fortalecer essa convicção.
Não se julgue que não gosto do Portugal de hoje. Não é verdade. Sou, como gosto de o afirmar, um nacionalista, um patriota.
Amo Portugal porque ele é a minha história e o meu eu. Ele é a minha terra, e do meu passado, e do passado dos meus. Aqui trabalharam e, com ou sem consciência, ajudaram a construir e a manter. Sou parte dele, com as suas tradições, hábitos e defeitos. As suas paisagens e os seus poetas e escritores.
Acredito que assim o é, pois que creio que Portugal é e será sempre, o conjunto do que foi; o conjunto da sua história, da totalidade dos valores e acontecimentos que, como dizia Prezollini, recordamos e esquecemos. Do país que, como lembrava Eduardo Freitas da Costa, se fundou na expansão e se realizou nos descobrimentos, sob a matriz cristã.
Amo por isso Portugal, e não sou como aqueles que acham que Portugal hoje mais valia não existir, que devia fundir-se ou desfazer-se; numa palavra, desaparecer, como defendiam alguns no século XIX.
Mas entristeço-me por vezes com o que lhe acontece ou lhe tentam fazer. O dia de hoje é celebrado na ignorância.
Não me acreditem porque sim. Ou não me façam ignorante porque não. Não vos apelo à crença. Apelo à razão.
Como vêem não estou do lado da maioria. Mas sei que o bem e o certo não são definidos por maior número. Pela política é fácil assim se fazer crer, pois que se vai a pouco e pouco, omitindo palavras e acontecimentos que invocam valores ou a falta deles, pois como escreveu um dia Adriano Moreira, “o silêncio é, no processo político, uma fonte documental tão importante como o discurso. Aquilo que se esconde está em luta com aquilo que se ostenta”. E à força de não os falarem, tornam-nos inexistentes; e promovendo valores opostos, tornam-nos únicos.
Porque me mantenho crente? Porque no fundo sou um Sebastianista, que acredita que por mais cerrado que seja o nevoeiro caído sobre Portugal, sempre se chegará a bom porto, sempre se acabará por aceitar aquilo que Eduardo Freitas da Costa chamou de Projecto Nacional, e que mais não é que o desejo uno que todos, sem excepção, querem ver realizado em Portugal, sabendo que isso também se encontra na dependência da adesão de cada um, último passo da liberdade individual.
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Óptimo Manifesto
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