Friday, May 30, 2008

PSD



Passos Coelho entristece-me.
De candidato sem passado, de candidato sem pedra no sapato, sem pedra que lhe pudessem arramessar, desatou, numa sede de protagonismo, a criar e a lançar propostas e ideias para o nosso querido país, que como sempre, tem de tocar nos valores morais em que a sociedade se baseia. Propostas essas que não têm qualquer sentido e cuja defesa se encontra a cargo de certos argumentos que de nada valem, nem pela demagogia.
Para além disso diz-se candidato. Coisa estranha essa. Candidato é aquele que aspira a algo. Neste caso, presumo que seja a liderança do PSD. Mas eu até já admito que ele se tenha enganado, talvez tenha concorrido a outra coisa e está ali por engano. É que não se admite como um candidato que quer ser oposição pergunte a um adversário seu se acha que o que está a dizer é certo ou errado. Como não se admite também que, numa corrida a três, onde eu acredito que ele irá no final ocupar o terceiro lugar, em discurso nas vésperas das eleições um homem admite ganhar, sabendo ele que só há dois caminhos possiveis: primeiro o de um dos adversários (e vocês sabem bem a quem se referia ele), depois o dele. Ainda bem que ele sabe que a dele não pode ser a primeira opção para o PSD, e muito menos para o País.

Para mim, Manuela Ferreira Leite é igual a Sócrates. Tirar um para por o outro é virar o disco para tocar o mesmo.

Santana Lopes surge como o "Catman": tem como se vê, 7 vidas. Pelo menos na política.
Há boa maneira de Churchill, é sempre bom lembrar-mo-nos:

"A Política é quase tão excitante quanto a guerra, e quase tão perigosa. A diferença é que na guerra só se pode ser morto uma vez, enquanto na política se pode morrer muitas vezes"

Valem-lhe os dotes oratórios.

Wednesday, May 28, 2008

Feira do Livro: 1ª Volta

Sendo longa a minha ausência nestas lides, e devendo algo aos leitores que, mesmo perante uma ausência de escrita, por aqui passam, cabe-me em jeito de redenção, informá-los das minhas compras de ontem à tarde. O local foi a Feira do Livro. O tempo foram aquelas duas horas em que a chuva não me enfrentou nem levou a melhor- sim porque mal começou a chover, corri para casa. Vi meia dúzia de barracas. Muito ainda ficou por ver. Esta prometida uma segunda volta.
Aqui ficam:





Thursday, May 22, 2008

A Intervenção à Portuguesa

Depois de ter ouvido as notícias, e de ter tomado conhecimento daquilo que há muito é patente e que para mim, sem me querer vangloriar, não passa de uma confirmação de algo que já tinha notado:Portugal é o país da UE com mais desigualdades na distribuição de rendimentos, achei por bem postar este vídeo de música Pimba -ainda pensei chamar-lhe popular, mas é impossível. Isto é claramente Pimba, e do forte!- que me parece bem a propósito. O seu autor é Nel Monteiro, e a atente-se que a música termina com uma profunda reflexão do próprio sobre o mundo actual.
Sem dúvida a ouvir. Mas com cuidado, porque a linguagem não é "propriamente própria" aos mais sensíveis e mais pequenotes.



PS: Cheguei a pensar escrever o nome da música no blog. Talvez aumentasse as visitas. Mas depois acordei e percebi que só iria denegrir ainda mais esta "casa", e além disso ninguém iria pesquisar a palavra "cagalhões".

Wednesday, May 14, 2008

Em jeito de autobiografia....

Quereis uma imagem e poucas palavras que fossem no entanto autobiograficas?
Ei-las:



"Voltei
ao casarão velho,
onde já tudo morreu...
Tirei
a venda ao espelho,
e olhei. Olhei, recuei.
Recuei, gritei:
- Era EU!"

(Rodrigo Emílio)

Em resposta ao pedido do amigo que (felizmente para todos nós) está VIVO E DE BOA SAÚDE!

Saturday, May 10, 2008

Porque Gosto de João Pereira Coutinho




ESSAS MULHERES

FOL, 27/11/2006

Escuta aqui, ó portuga: que ideia é que vocês, portugueses, têm dos brasileiros que vivem em Portugal? A pergunta foi frequente nos meus dias paulistanos. Em público ou privado, existia sempre alguém interessado em saber a opinião do patrício sobre os primos mais distantes. A minha resposta era invariavelmente a mesma: pessoalmente, gosto. Mas também confesso que falo mais do feminino do que do masculino. Digo mais: as mulheres brasileiras fizeram mais por Portugal do que séculos e séculos de permutas académicas, literárias, culturais.
O auditório feminista não gosta de ouvir. E confunde uma observação objectiva com segundas intenções. Não existem segundas intenções. Apenas as primeiras. As que ficam. E então acrescento: tempos houve em que 'beleza' e 'mulher portuguesa' não rimavam na mesma frase. O escritor Miguel Esteves Cardoso, que entendeu os portugueses melhor do que ninguém, comentava há uns anos que a imagem de uma mulher bonita, entre nós, era motivo para conversas infindas durante semanas infindas. Facto, Miguel, facto. Atendendo à escassez da espécie, a visão de uma mulher bonita tinha o impacto de um marciano que subitamente aterrava no fundo do quintal. Era um acontecimento. Era um choque. Era um meteorito cruzando os céus, deixando um rastro de fogo nas nossas imaginações carentes e lunares. A 'Mulher Bonita' era um ser de contornos mitológicos. Como as fadas. Os duendes. Os esquerdistas inteligentes. O resto era desolador. Rostos fechados. Pernas também. E o clássico bigode, que crescia por desleixo. Como as ervas daninhas de um jardim abandonado.
Tudo mudou. Milhares de brasileiros cruzaram o Atlântico. Milhares de brasileiras também. As ruas de Lisboa e do Porto foram inundadas por um certo calor tropical que deixou os homens assustados e maravilhados em partes iguais. Foi a nossa passagem do cinema mudo para o sonoro. Do preto e branco para a cor genuína. Adultos choravam nas esquinas das cidades, como pobres famintos a quem é oferecido um manjar celestial.
Claro que a chegada em massa de brasileiras em massa não contentou toda a gente. Não contentou as próprias mulheres lusitanas, subitamente atiradas para as cordas da concorrência internacional. Mas até aqui o liberalismo clássico revelou-se um profeta certeiro: a concorrência tende a melhorar o produto para alegria geral dos consumidores.
E o produto foi melhorado pela 'mão invisível' da competição hormonal. As portuguesas, dispostas a não perder a sua quota de mercado, deixaram que o jardineiro entrasse lá em casa, com tesoura de poda, pronto para cortar a rehra florestal. Subiram-se saias. Desceram-se decotes. Os portugueses descobriam, atónitos, que as suas mulheres também tinham formas de mulheres. Conheço casos de arr igos que, de um dia para o outro, concluíam que o irmão, afinal, era uma irmã. E, com a passagem dos anos e a chegada de mais mulheres brasileiras, 'beleza' e 'mulher portuguesa' passaram a rimar nos nossos dias subitamente líricos e solares. Já não havia uma única mulher bonita^ cruzar os céus dos nossos dias e capaz de alimentar conversas entre machos durante noites e noites de insónia febril. Havia uma mulher bonita todas as horas. Em todos os lugares.
Hoje, difícil em Portugal é não encontrar uma mulher bonita. O cenário já cansa; e nós, homens, sonhamos até, por motivos perversos e ligeiramente patológicos, vislumbrar uma feia. Só para descansar o olhar e arrefecer o corpo martirizado. Inútil. Mesmo as feias têm um certo encanto: a sensualidade real de quem compensa a ausência de formas com algum interesse de conteúdo.
Obrigado, Brasil. Um dia alguém irá escrever esta história: a história de como as mulheres brasileiras, cinco séculos depois de Cabral, descobriram, finalmente, Portugal. E de como os portugueses descobriram também as mulheres indígenas que tinham em casa. Sim, essas mulheres. Sim, as nossas mulheres: injustamente perdidas e escondidas na floresta amazónica da frigidez secular.

As Saudades do Sai de Baixo