"A quem como discipulo beneficiou dos ensinamentos do Mestre cumpre assinalar o luto e a divida de gratidão."Pedro Soares Martinez
O Desabafo...
Marcello Caetano
Presidente do Conselho de Ministros entre 1968 e 1974, sucessor de Salazar; Professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, é considerado o pai da escola Administrativista Portuguesa. É um dos maiores juristas da história do Direito Português, e o melhor no campo do Direito Administrativo.
"O Diogo era devoto de Salazar, amigo do presidente Tomás, de quem um tio era ajudante, ao ponto de ir preparar os seus exames para o Palácio de Belém! A revolução dos cravos foi sobretudo a derrocada do carácter dos portugueses. Que homem!"
(...)
"Não sei o que pensas a respeito do CDS - para mim tem sido um desapontamento, como para a maioria das pessoas minhas conhecidas que a princípio acreditaram nele. E as atitudes do meu antigo discípulo - assistente Diogo do Amaral - na política e em relação a mim foram um dos maiores desgostos que neste período sofri"
(Carta de 13 de Abril de 1977)
"na verdade, no desgraçado panorama da política portuguesa actual, não há melhor"(que o CDS)
(...)
"Quanto ao CDS, compreendo muito bem a tua posição (...). As minhas razões de desconsolo com o partido e de indignação com o presidente são pessoais. E infelizmente justificadíssimas. No ano passado estive muito mal de saúde com o desgosto que me deu o sr. Diogo do Amaral. Mas isso é coisa minha e vocês têm de se agarrar ao que houver de menos mau."
(Carta de 28 de Abril de 1977)
"O que me impressiona no panorama político português actual é não ver ninguém com qualidades morais de liderança do País e sobretudo da chamada direita. Infelizmente conheço muito bem os Kaúlzas e os Adrianos Moreiras que tudo sacrificam à ambição do mando e tive um enorme desapontamento com o Diogo do Amaral. Do Galvão de Melo, simpatiquíssimo desmiolado que durante anos conheci fiel sustentáculo do salazarismo, nem se fala."
(Carta de 25 de Maio de 1977)
"Cá cou passando menos mal, assombrado(embora não surpreendido)com o espectáculo da democracia portuguesa. O Tal Soares deveria escrever um livro intitulado 'Como se Destrói um País'"
(Carta não identificada pelo DN)
...e a resposta (do visado).
Diogo Freitas do Amaral
Professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, especialista em Direito Administrativo, foi largos anos assistente de Marcello Caetano no período de regência deste da disciplina de Direito Administrativo. Considerado como sucessor de Marcello Caetano, é ainda hoje o maior especialista vivo de Direito Administrativo em Portugal.
"Considero um grande elogio ser acusado por adversários da democracia em ter contribuído para a consolidar, em Portugal, em vez de, como pretendiam, ter alinhado nos golpismos de direita, que foram tentados em 1974/75 e nos quais sempre recusei colaborar"
(...)
"Pelo relato que me foi feito, as figuras políticas mais atacadas nessas cartas são as do Dr. Mário Soares e a minha própria, ao mesmo tempo que os nomes mais elogiados como sendo capazes de fazer regressar, por via militar, Portugal ao regime da Constituição de 1933 são os generais António de Spínola, Galvão de Mello e Kaúlza de Arriaga"
(...)
"Não lhe levo a mal porque estava profundamente deprimido no seu exílio no Brasil. De resto, sinto-me em muito boa companhia junto do Dr. Mário Soares e considero um grande elogio ser acusado por adversários da democracia em ter contribuído para a consolidar em Portugal"
4 comments:
Do teor destas cartas ressalta a profunda ingratidão para com o Prof. Marcelo Caetano e o Dr. Salazar do assistente de Marcelo Caetano e antigo líder do CDS, Prof. Diogo Freitas do Amaral.
Que tratado de psicologia e de sociologia se poderia elaborar com exemplos destes!? perante acontecimentos adversos, algumas pessoas trocam de personalidade como quem troca de camisa. É triste, muito triste!...
Rui Moio
As cartas foram vendidas por 2500€ e o Estado recusou-se a ficar com elas. Vergonhoso.
Se fossem a leilão uns bombos, drogas, martelos usados na ocupação de fábricas e casas ou uns discos em vivil de Tonichas, Correias de Oliveira e Sérgios Godinho, do tempo do 25 de Abril, nesta circunstância, o Estado compraria tudo a qualquer preço.
Caro Nuno
estas cartas têm, sem duvida alguma, valor histórico. Mas que interessariam ao Estado? Elas não são elogios ao 25 de Abril... Antes pelo contrário.
Porque quereria o Estado comprá-las?
Não fui o comprador e tenho pena. Não sei qual o plano do novo possuidor das cartas para as respectivas. Será que as irá publicar? É que confesso que muito gostava de as poder ler!
Caro rui,
foi para expressar esse sentimento de tristeza que coloquei aquela citação que retirei de um artigo do Professor Pedro Soares Martinez, a propósito da morte do Professor José Pinto Coelho. Penso que na vida todos temos mestres. E quem experimenta viver verdadeiramente essa relação entre discípulo e mestre, sabe a dor que é causa a qualquer uma das partes, quando uma delas, não fazendo jus ao lugar que alcançou, defrauda as expectativas em si depositadas pelo outro.
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