Sunday, August 26, 2007

Fazer Parar o Trânsito

O Público de ontem continha a seguinte notícia "(os vereadores da oposição da) Câmara Municipal de Lisboa pondera renegociar sistema de semáforos". Segundo consta, parece que um dos motivos é o sistema ter mais de 20 anos e porque, segundo um vereador eleito pelo movimento de Helena Roseta, Manuel João Ramos, o trânsito é controlado por um sistema "que privilegia os automóveis" e que é necessário pensar mais nas pessoas.
Eis a minha sugestão.



O sistema em si tem mais de 20 anos.
O Material que o sistema necessita para funcionar andar perto dos 20 anos.
E é uma maneira de privilegiar as pessoas, quer vão a pé quer de carro. Essencialmente, agrada aos homens, mas nos dias de hoje, há mulheres que também não dizem que não...

A princesa do povo

Anticipando o meu 31 de Agosto...



Há 25 anos, por estranho que pareça, a Monarquia Britânica (britânica, não inglesa) era ainda uma instituição respeitável, e relativamente imune às pressões para se "modernizar". Essa respeitabilidade impunha, entre outras coisas, que o príncipe de Gales se casasse com uma virgem. Porquê? Para que ninguém a seguir se viesse gabar pêlos tablóides de que tinha dormido com a futura rainha (ou mesmo, se Isabel morresse, com a rainha) e descrever coloridamente a coisa. Quando, para garantir a sucessão, o casamento de Carlos se tornou, por assim dizer, "inadiável", toda a gente se riu com o sarilho em que o desgraçado estava metido. Onde iria ele descobrir tal raridade? E quem seria ela? Foi Diana Spencer, uma jovem bonitinha, quase adolescente e pouco esperta, à volta de quem logo se inventou, para consumo dos media, uma história de amor melada e absurda. O casamento, claro, acabou mal. Carlos, coitado, que também não era uma grande cabeça, ao menos percebia o seu papel na ordem constitucional e na vida política. Diana queria ser célebre e queria ser feliz, como qualquer pequeno--burguesa analfabeta e ambiciosa, ensopada no sentimentalismo popular do tempo. Começou então o espectáculo de uma alta personagem do Estado, que pouco a pouco se transformou numa pop star e que os media naturalmente tratavam como uma pop star. Andava lá tudo: grandes costureiros, actores de cinema, jogadores de rubgy, "jornalistas" de escândalo, o inconcebível Elton John e a bulimia da praxe. No meio disto, Diana, que romanticamente se achava "natural" e era de facto uma exibicionista indiscriminada e louca, pedia por favor a privacidade que ela própria anulara.
Com o divórcio e a querela com a Monarquia (um caso de puro ressentimento) veio a segunda encarnação de Diana na figura clássica do "anjo de caridade", muito habitual nas rainhas do século XIX. Visitou leprosos, drogados, doentes com sida; e passeou por Angola a fingir que desarmava minas. Mostrou aí um talento particular para o estilo touchy-feely, que disfarçava a irrelevância do exercício e comovia o público. Blair aproveitou a inspiração e fez dela uma improvável "princesa do povo". Do povo da televisão e dos tablóides, com certeza. Não por acaso os filhos comemoraram a morte da mãe em Wembley, com um concerto rock. Ninguém representou como ela o egocentrismo, a vulgaridade e a superficialidade da época, de certa maneira, a cultura da democracia liberal em que vivemos.

Vasco Pulido Valente